" As discussões sobre afirmação, identidade, diversidade e gênero e equidade podem estimular as discussões sobre os direitos dos estudantes e promover a inclusão de políticas públicas, currículo, propostas pedagógicas e de gestão escolar que inclua as minorias discriminadas e diversas no ambiente escolar." (Adriana Sales)
Para algumas pessoas, qualquer ideia ou defesa que insira a travesti nos ambientes formais da sociedade causam espanto e rejeição. Aafirmação de identidade travesti destas pessoas e suas defesas acaloradas acabam causando desconforto naqueles que sempre enxergaram estes indivíduos à margem do cotidiano.Formas femininas esculturais camuflam o sexo e a idade de uma nova geração de travestis, que circula, com
seus nomes sociais, nas ruas de Mato Grosso. Falar ainda em crianças e jovens travestis parece absurdo para padrões tão obsoletos e conservadores, que deveriam proporcionar um debate mais maduro e reflexivo sobre padrões sociais e novas perspectivas educacionais. Adificuldade que a sociedade encontra para lidar com essa dicotomia é a principal causa de um sentimento, comum entre travestis, de que certos espaços
são inconciliáveis com os seus estilos de vida. Entre estes espaços, está a escola e esta angústia é a principal responsável por afastar esse segmento da sociedade, precocemente, da vida acadêmica e de fazer com que se sintam inaptas para abraçar uma carreira formal.
O uso do nome social ou mesmo do ‘nome de guerra’ se torna um a das ferramentas de imposição nesta batalha por direitos. O exercício do uso e empoderamento desses nomes identitários, pelas travestis, qualificado como uma função tradicionalmente feminina, torna-se uma guerra velada pela garantia de espaço, presença e manifestação da existência, quase nunca contempladas, senão pelo grito de algumas trans que colocam suas caras, corpos e nomes sociais a mostra em grupos elitizados pensantes.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo 15), ‘A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis’. Ainvestigação da constituição da identidade travesti na adolescência, no início de sua publicização e no auge de algumas de suas mudanças corporais, têm possibilitado o levantamento de dados para a compreensão dessa cultura sexual e toda proposição contemporânea de eqüidade de gênero. As travestilidades são processos identitários pelos quais os sujeitos travestis passam para constituir-se enquanto ‘femininos’.
Essa realidade é perceptível e real devido às experiências constituírem-se dentro da heteronormatividade, o que não impede que, o corpo travesti preserve a ambiguidade, a surpresa e a confusão dos códigos de inteligibilidade, pois é ‘um corpo aparentemente feminino que tem em seu corpo inicial um órgão
sexual masculino...‘ (Peres, 2005:25-26).
As realidades encontradas nas escolas e pesquisas existentes na academia apontam para a necessidade analítica de ampliarmos essas noções e contemplarmos aqueles sujeitos que já se assumiram travestis e, ainda bastante jovens têm mudado sua autodenominação.
As discussões sobre afirmação, identidade, diversidade e gênero e equidade podem estimular as discussões sobre os direitos dos estudantes e promover a inclusão de políticas públicas, currículo, propostas pedagógicas e de gestão escolar que inclua as minorias discriminadas e diversas no ambiente escolar.
A evasão escolar provocada pela transfobia é preocupante. Para quem vivenciou a academia já há
concorrência velada para o mercado de trabalho, logo se imagina todos os entraves de se inserir no mesmo sem ter concluído seus estudos ou mesmo freqüentado uma escola. Mais difícil ainda é não ter escolaridade e nem sua identidade respeitada e reconhecida. E é na infância que começa a descoberta pela sexualidade e cabe à escola trabalhar este descobrimento, discuti-lo, pensá-lo e refleti-lo de maneira sensibilizada e respeitosa como aquilo que não conhecemos ou mesmo não compreendemos de forma profunda.
Com este viés pretendemos não só enfatizar as especificidades deste segmento da comunidade LGBT, mas
também proporcionar novos olhares para o diferente: para o negro, o índio, o portador de necessidades especiais, a mulher, o gordo, a loira e todos os estereótipos que fazem parte deste universo tão repleto de diferenças que resultam neste conjunto de características da psique do animal racional. Mesmo que o nome social e a defesa do uso do mesmo pareça alusão às homossexualidades, é necessário que se reconheça para que esta arma de batalhas e conquistas sociais se torne apenas mais uma vertente entre as dicotomias humanas.
ADRIANA SALES É LOTADA NA SUPERINTENDÊNCIA DE FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO NA SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO E UMA DAS DIRETORAS DA ASSOCIAÇÃO DAS TRAVESTIS E TRANSEXUAIS DE MATO GROSSO (ASTRAMT)
Fonte: GAZETA
CUIABÁ, QUARTA-FEIRA, 1 DE DEZEMBRO DE 2010
CUIABÁ, QUARTA-FEIRA, 1 DE DEZEMBRO DE 2010
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